Redes Sociais

Jornal vaza as diretrizes secretas do Facebook com as regras internas da moderação de conteúdo

O The Guardian conseguiu colocar as mãos em mais de 100 manuais de treinamento interno com planilhas e gráficos que mostram como o Facebook lida ...

Por Francis Trauer - Dia 23 de May de 2017 às 00:05

O The Guardian conseguiu colocar as mãos em mais de 100 manuais de treinamento interno com planilhas e gráficos que mostram como o Facebook lida com a moderação de conteúdo sensível contendo violência, terrorismo, pornografia, discursos de ódio, além de várias outras diretrizes secretas da rede social.

As regras são recentes e foram divulgadas para os funcionários da empresa que filtram conteúdos de postagens denunciadas, porém alguém lá de dentro vazou e chocou a imprensa ao escancarar como as decisões sobre esses temas são tomadas.

Por exemplo, segundo as regras do Facebook, emitir comentários violentos ou misóginos como "chute aquela menina de cabelo verde" são completamente permitidos, enquanto alguém que sugira matar o presidente Trump é banido imediatamente da rede social (nos EUA, ameaçar o presidente é um ato criminal).

Mundo real x digital

Para a rede social mais popular do mundo, cujo alcance chega próximo das 2 bilhões de pessoas, o que os usuários falam online não necessariamente representam o que diriam face a face com uma pessoa no mundo real, como explicita a seguinte passagem:

"Pretendemos permitir o máximo de discurso possível, mas precisamos criar uma linha de conteúdo que pode causar danos críveis no mundo real. As pessoas comumente expressam desdém ou desacordo ameaçando ou chamando pra violência de maneiras que não são tão sérias.

Nosso objetivo é interromper o potencial de dano real causado por pessoas que incitam ou coordenam danos a outras pessoas ou propriedades, exigindo que certos detalhes estejam presentes a fim de considerar uma ameaça crível. Em nossa experiência, é esse detalhe que ajuda a estabelecer que uma ameaça provável vai ocorrer".

Isso abre margem para que comentários como "para quebrar o pescoço de uma mulher, faça pressão no meio da sua garganta" não sejam deletados. Afinal, segundo o Facebook, não são ameaça diretas. O mesmo vale para vídeos com mortes violentíssimas. Por mais que eles sejam marcados como perturbadores, a rede social não vai deletá-los porque, de acordo com ela, esses vídeos ajudam a criar consciência de problemas.

Fato curioso: artes feitas à mão que mostrem nudez ou atividades sexuais são permitidas. Já as feita digitalmente, não.

Diretrizes polêmicas

Fotos de abusos físicos de crianças, desde que sem conotação sexual ou bullying, não podem ser deletadas a menos que possuam elementos sádicos. O mesmo vale para fotos de abuso com animais, que podem ser compartilhadas sem problemas. Vídeos de aborto também são permitidos, se não mostrarem nudez.

Vídeos ao vivo com automutilação? Permitidos. O argumento é que o Facebook não é um publisher e por isso não pode punir nem censurar pessoas "em sofrimento".  Também são permitidas "exibições moderadas de sexualidade como beijos com a boca aberta, sexo simulado com roupas e atividade sexual pixelada", assim como piadas sexuais. Sendo assim, emitir expressões ofensivas com palavrões sexuais não são banidas.

O Facebook agora permite também, entre outras coisas, "fotos de bebês nus tão jovens caso o foco não seja nas genitais... [e] imagens de nudez adulta no contexto do Holocausto". No entanto, imagens do Holocausto que representem crianças nuas devem ser removidas caso usuários se queixem.

Fato curioso: página de uma pessoa com mais de 100 mil seguidores é considerada uma figura pública, privando ela de ter as mesmas proteções dos indivíduos privados.

Como moderar bilhões de conteúdos todos os dias?

Monika Bickert, chefe de gerenciamento de políticas globais do Facebook, explicou que é impossível policiar toda a comunidade global tão diversificada que existe na grande rede. E isso quando estamos falando apenas do idioma inglês. Diante da pressão dos últimos meses, o Facebook está contratando 3.000 novos moderadores, além dos 4.500 já existentes, para tentar reduzir a propagação de discursos de ódio e exploração de crianças.

"Nós temos uma comunidade global muito diversa e as pessoas vão ter ideias muito diferentes sobre o que é OK compartilhar. Não importa onde você desenhe a linha, sempre haverá áreas cinzentas. Por exemplo, a linha entre a sátira e o humor é muito tênue, é muito cinza. É muito difícil decidir se algumas coisas pertencem ao site ou não", afirma Bickert ao The Guardian.

A executiva ainda acrescenta: "nos sentimos responsáveis com a nossa comunidade para mantê-los seguros e nos sentirmos mais conscientes. É absolutamente nossa responsabilidade manter-se no topo dela. É um compromisso na empresa. Nós continuaremos a investir proativamente para deixar a rede social segura, mas queremos também capacitar as pessoas para relatar qualquer conteúdo que viole nossos padrões".

Combate à pornografia de vingança


Embora algumas regras causem certo choque da imprensa, também existem notícias boas nessa história toda. Em janeiro, o Facebook desativou mais de 14 mil contas que estava propagando extorsão sexual e pornografia de vingança (rage porn), além de 33 incidentes envolvendo crianças. 

Recentemente, o Facebook declarou guerra às manchetes sensacionalistas e aproveitou para afirmar que está desenvolvendo e testando várias ferramentas para combater o conteúdo compartilhado.

O que você achou das políticas do Facebook? Você concorda com elas? Compartilhe sua opinião nos comentários!

Fonte: The Guardian

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